Análise

A desigualdade existe. Como combatê-la?

Índice Firjan reafirma Sul como menos desenvolvido que o Norte do Estado

Infocenter -

Mais de 65% na participação do Produto Interno Bruto (PIB) gaúcho. Esta é a diferença econômica entre as metades Sul e Norte do Rio Grande do Sul - afora ilhas de excelência. Aliada e relacionadíssima a esse dado está a discrepância do Índice Firjan, cujos números de 2018, divulgados recentemente, medem o grau de desenvolvimento dos municípios através de estatísticas dos ministérios do Trabalho e Emprego, Educação e Saúde. Não começou hoje a desigualdade no Estado e não é apenas um o motivo para que ela ocorra.

Dezoito cidades gaúchas apresentam grau alto de desenvolvimento, segundo o levantamento da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro. Nenhuma delas fica na Metade Sul. Também estão nas mesorregiões Sudeste e Sudoeste as duas únicas localidades gaúchas com mais de cinco mil habitantes cujo índice é considerado regular: Santana da Boa Vista (0,5932) e Dom Feliciano (0,5798) - quanto mais próximo de 1, mais desenvolvido é o lugar. Tendo em vista a Zona Sul, ela é a divisão regional com maior número de municípios com desenvolvimento moderado - índices de 0,4 a 0,6 ponto: 17, mais da metade do total, 23. Cristal é o destaque, com índice 0,7649.

Como chegamos aqui
Fábio Cerqueira, historiador e professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), destaca que durante o século 19 e até as primeiras décadas do século 20 a Metade Sul era destaque no Rio Grande do Sul em termos de desenvolvimento econômico e humano. Foi aí que o Estado ingressou na era industrial, através do polo charqueador e de empresas como a Lang, de Pelotas, e a Companhia União Fabril, criada por Carlos Guilherme Rheingantz, em 1873, no Rio Grande. A região também registrou os primeiros passos da telefonia e da rede elétrica em solo gaúcho.

Concomitantemente, salienta o sociólogo Hemerson Pase, autor de tese de doutorado Capital social e desenvolvimento econômico do Rio Grande do Sul, os municípios da Metade Norte foram proibidos de ter escravos pelo governo estadual, que representava a elite da época, concentrada no Sul. "Isso os obrigou a cooperar para sobreviver e crescer", comenta.

O quadro, segue o professor Cerqueira, começou a se inverter a partir de 1930, através de diversos fatores. O primeiro é a política. Naquela época o Rio Grande do Sul passou por rearranjo de forças, com o Partido Republicano Rio-grandense (PRR) de Júlio de Castilhos, governando e priorizando o desenvolvimento da Metade Norte. O segundo é relacionado às escolhas da elite econômica local. De acordo com ele, faltou vocação para seguir investindo em momentos de crise, ao invés de optar pelo rentismo. 

Além disso, Cerqueira critica também as escolhas dentro da indústria. "Quando se optou pelo arroz, Pelotas ficou condicionada a uma produção sazonal com pouca mão de obra. Isso diminuiu o poder aquisitivo da população e gerou emigração de jovens para outras localidades que pagavam melhor", conta. A partir de 1970, a população da Metade Norte passou a ter mais que o dobro do Sul e o poder político nunca mais se equiparou - hoje são 41 deputados estaduais representando o Norte e apenas 14 sendo porta-vozes do Sul.

Retroalimentação
O sociólogo Hemerson Pase acredita que a desigualdade que há no Rio Grande do Sul é fruto do domínio que as elites econômicas gaúchas exercem com o Poder Público, enquanto a relação do Estado com os excluídos é de "subserviência clientelista". "Tem a ver com o próprio capitalismo, cujo desenvolvimento e sucesso exigem exploração e concentração de recursos, rendas e riquezas", explica. 

Pace critica a ausência de políticas públicas claras na diminuição dessa diferença. "O investimento é sempre feito nos 'setores vencedores' da economia, como agropecuária, extração mineral, no Sul do Estado e indústria metal-mecânica no Nordeste"

Na visão do professor Fábio Cerqueira, uma opção seria a região olhar com mais seriedade - e principalmente senso de coletividade - para o turismo como forma de desenvolvimento. "Se pensa que o turista só virá com a estrutura pronta, mas a gente sabe que por muitas vezes ele chega antes. Falta agressividade. Menos rentismo e mais empreendedorismo", afirma, destacando que esforços desde a primeira década do século 21, com o Polo Naval em Rio Grande e a duplicação da BR-116, contribuíram para a tentativa de diminuir a desigualdade. A tensão política de 2016, entretanto, desmantelou o investimento em Rio Grande e paralisou a obra na estrada.

A Zona Sul no Firjan
As três melhores
Cristal 0,7649
Santa Vitória do Palmar 0,737
Pelotas 0,7264

As três piores
Santana da Boa Vista 0,5932
Capão do Leão 0,6164
Cerrito 0,6177

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